sábado, 16 de outubro de 2010
Mais um dia
terça-feira, 28 de setembro de 2010
Hibernação
O telefone toca na mesa-de-cabeceira e eu finjo não ouvir. Toca uma e outra vez e ainda outra. Atendo.
"Sim?"
"Olá..."
Ela fica à espera de uma resposta que não dou. Então prossegue.
"Estou de volta à cidade... Queres combinar um café?"
"Não."
Desligo. Lá fora continua a não chover e assim não dá, assim é impossível um homem, por mais só que esteja, por mais derrotado que se sinta, deixar-se abraçar pelo conforto cinzento do vazio. Levanto-me, por fim. Vou até à casa-de-banho, abro a água do duche. Penso que, se voltasse para a cama, este som talvez me iludisse e eu conseguisse sentir pena de mim mesmo. Mas em vez disso enfio-me debaixo da água que queima na minha pele, que açoita a carne cansada e sinto-me num outro abraço que não aquele outro em tons de cinza que procurava nas almofadas.
Depois de me vestir, quando estou para sair de casa, algo me leva a pegar no telefone e a discar rapidamente um número. Ela atende.
"Desculpa, há pouco quando ligaste tinha acabado de acordar e esqueci-me de te dizer uma coisa..."
Quase a consigo ver a sorrir do outro lado, enquanto diz:
"Tudo bem. O que é que me querias dizer?"
"Vai à merda."
Desligo. Saio de casa. Afinal o sol está absolutamente de acordo comigo.
segunda-feira, 15 de dezembro de 2008
Gato-Preto-Noite
Hoje, o meu gato acordou-me, com os olhos faiscando no meio do abismo de pêlo que se fundia no escuro da noite, apenas para me dizer
- Vou-me embora.
E, como se o que se passara fosse algo de casual, começou a lamber a pata, lavando o seu corpo de azeviche.
- Vais embora?
Ele olhou-me, com uma expressão grave. Chegou-se mais perto, com o cuidado de não a acordar a ela, que dormia profundamente a meu lado, e esfregou a sua cabeça no meu rosto. Peguei nele e fitei-o com atenção.
- Chegou a hora?, perguntei.
- Chegou, meu amigo.
Levantei-me, com ele enroscado no meu colo, ronronando.
- Para onde vais?
- Tu sabes.
- E ela?
- Ela fica. É aqui que ela pertence.
Abri-lhe a porta.
- Não queres comer algo antes de ir?
- Não é preciso.
Ficámos em silêncio por uns instantes.
- Adeus.
- Adeus.
Ele começou a deslizar rua fora. Quando ia quase a desaparecer na esquina, indecifrável da cortina nocturna, chamei-o e perguntei mais uma vez
- Para onde vais?
Ele parou e, não fosse pelas suas feições felinas, seria capaz de jurar que sorriu antes de me responder
- Para outro sonho.
quarta-feira, 5 de novembro de 2008
Where the President is never black, female or gay...
sábado, 2 de agosto de 2008
Coma
sábado, 24 de maio de 2008
Vergiess alles was Ich Dir sagte
Azembla's Quartet - Esquece Tudo O Que Te Disse (videoclip)
Trailer
domingo, 18 de maio de 2008
A Carta Que Não Te Escrevi
Bem sei que enterraste ou desejas enterrar cada um dos sorrisos que trocámos, cada vez que os nossos olhares tiveram diálogos que nenhuma língua pode descrever, cada jura de eternidade, cada roçar das nossas peles, cada momento em que acreditaste que havia mais no mundo que o próprio mundo. Não sou um qualquer Cristo, para praticar ressurreições. Sou um mero animal de mãos rasgadas, com o corpo rasgado, deixando a água escorrer. Sou um mero animal que acreditou nas tuas carícias.
Queria perdoar-te. Não posso. É-me impossível perdoar os teus gestos e a tua esconjura, tanto pelo facto de terem ferido este búfalo imenso que habita em mim, como por me ser impossível guardar qualquer raiva contra ti e, portanto, nada ter para te perdoar.
Entende, por favor, que estas palavras não se destinam a ninguém e que, ainda assim, as dirijo apenas a ti. São apenas a minha forma, quase infantil, de te dizer: este mundo não te fechou as portas, apenas apagou a luz que esperava por ti, à noite, iluminando o alpendre. Se chegares ao patamar e chamares pelo meu nome, não farei mais do que dar-te as chaves para esta casa; essas chaves que sempre foram tuas.