segunda-feira, 7 de abril de 2008

O Beijo

O nosso beijo foi ruidoso.
O primeiro sinal foi o casal da mesa ao lado. Voltou-se e mirou-nos com surpresa, como se a nossa ousadia fosse pura loucura. Logo a seguir, todos no café nos fitaram, irados. O velho que tragava o vinho ao balcão, por entre arrotos e umas asneiras, cuspiu para o chão em sinal de protesto.
Na rua, os transeuntes pararam, estupefactos, tomados de medo. Uma criança chorou e a mãe tapou-lhe os ouvidos, procurando a fonte de tamanho distúrbio. Dois carros bateram. Os condutores discutiram de quem era a culpa, mas a sua raiva era contra nós e não entre eles.
A TV ligou-se como que por magia e falavam comentadores e jornalistas. Praguejavam contra o mundo, atiravam culpas como ovos podres.
Os nossos lábios separaram-se num sorriso meigo e o mundo inteiro retomou o seu rumo: o velho pediu mais um copo; a criança deu a mão à mãe; os condutores trocaram contactos e seguradoras; alguém tirou o som à televisão. O mundo prosseguiu, mas o arrepio do nosso beijo ficou para sempre gravado na sua espinha.

2 comentários:

Anónimo disse...

a inveja da felicidade é assustadora e percorre o Homem de lés a lés... assim sendo, também eu confesso a minha.
o beijo é indubitavelmente o mais perfeito dos prelúdios!

Anónimo disse...

bom fim de semana beijoqueiro :)