sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

Um monstro sem nome

Uma história muito, muito bem contada...

Lilium - Elfen Lied - Gustav Klimt

Uma música absolutamente maravilhosa, de que me recordei ao ver um post no blog "Cassamia", visto que acompanha esta introdução a um anime japonês (Elfen Lied, uma história de amor e ódio com contornos shakespearianos), cujo genérico se baseia nas obras de Gustav Klimt. Vale a pena ver. E ouvir.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Everyday - Buddy Holly

Uma canção que adoro num filme que me apaixonou..



EVERYDAY
(Charles Hardin/Norman Petty)
Buddy Holly & The Crickets


Everyday, it's a getting closer,
Going faster than a roller coaster,
Love like yours will surely come my way, (hey, hey, hey)

Everyday, it's a getting faster,
Everyone says go ahead and ask her,
Love like yours will surely come my way, (hey, hey, hey)

Everyday seems a little longer,
Every way, love's a little stronger,
Come what may, do you ever long for?
True love from me?

Everyday, it's a getting closer,
Going faster than a roller coaster,
Love like yours will surely come my way, (hey, hey, hey)

Everyday, it's a getting faster,
Everyone says go ahead and ask her,
Love like yours will surely come my way, (hey, hey, hey)

Everyday seems a little longer,
Every way, love's a little stronger,
Come what may, do you ever long for?
True love from me?

Everyday, it's a getting closer,
Going faster than a roller coaster,
Love like yours will surely come my way, (hey, hey, hey)
Love like yours will surely come my way.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Apresentando: The Cynicals

Vou hoje à noite (re)vê-los e achei por bem pôr aqui um vídeo daquela que é, sem dúvida, uma das bandas nacionais que vai tomar as rádios de assalto. The Cynicals são uma banda de Coimbra que conheço desde o princípio em virtude de ter dividido casa com João Macias, o carismático (e alentejano) vocalista. O seu estilo, nitidamente british, com claras influências de Beatles (uma das duas versões que tocam é precisamente dos Fab Four, "I Feel Fine"; sendo que a outra é uma das minhas canções de estimação: "Happy Together", dos The Turtles) contrasta com as letras, de teor satírico à "british way of life".
The Cynicals têm arrecadado prémios pelo país fora, apesar da curta existência. Só em 2007, contam com quatro primeiros prémios em concursos de bandas e um segundo lugar no concurso Termómetro (Ex-Termómetro Unplugged). O seu EP de estreia ("So much a do about nothing"), está quase pronto, bem como um videoclip de "Emily Rose", uma das músicas que aqui coloco, numa versão ao vivo na Latada deste ano em Coimbra.

Destaque especial para João Rebola, o guitarrista, que escreve as letras e compõe.

THE CYNICALS - On Sundays


THE CYNICALS - Emily Rose


Para eles, toda a sorte do mundo que, se isto fosse o Reino Unido, já teriam sido lançados, com direito a lugar ao lado de Maxïmo Park e Kaiser Chiefs.
Deixo ainda a ligação para a página de myspace deles: aqui.

Lizard King

Deixei passar o dia oito deste mês em branco. Não devia. Por diversas razões: Jim Morrison, sendo vivo, teria celebrado o seu 64º aniversário; e eu celebrei a "ressaca" pós-concerto de Doors - Séc. XXI a que assisti em 2003.
Seja por nostalgia ou por súbita lembrança de uma banda que marcou tantos momentos da minha vida (gosto ainda de pensar no facto de termos pais com os mesmos nomes próprios e de o único teste de QI que fiz na vida me ter dado um resultado equivalente ao de James Douglas Morrison), decidi emendar este meu erro. Aqui vai:

BLUE SUNDAY-


THE END-

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Manual de Sobrevivência

é preciso:

- viver de cabeça e não de cu; porque a vida é só mais um oceano e é preciso saber para que lado está a luz.

- amar sem tremeliques; porque ainda somos macacos e a razão tem umas partes gagas: o sentir é puro.

- ser preciso e real; não viver de frases feitas, ambíguas, mas sim lapidá-las até serem nossas e ninguém as reconhecer, porém reconhecerem-se nelas.

- saber ser sempre o último em quem se pensa para, quando necessário, passar de imediato a primeiro.

- saber dizer "não" e -ainda mais importante- saber dizer "Sim".


é preciso:

- viver num beijo, como quem beija; e morrer na suave alegria dos lábios que se separam.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Bom dia

Ouve:
pedi uma dança. não ma deste. dizes: volta ao teu Segundo amor (a maiúscula está na palavra errada). não existe regresso, vai para além de ti. pedi: se sentes, vem neste bailado. o que te peço agora é: explica-me:
- a raiva e o ciúme;
- o teu sentir;
- porque deveria eu continuar a cortejar uma princesa (um Amor, com a maiúscula no sítio certo) que não dá valor ao que sinto, que não deseja o meu regresso, que me diz: "o tempo passa", como se vívessemos para sempre (desculpa, era indirecta para mim?).
peço: diz-me o que fazer, em que caminho te encontrar porque EU preciso de AMOR para ser FELIZ. mas não me vou perder numa estrada inútil. peço perdão.

se me quiseres, sabes em que esquina me encontrar.
ponto simples? ou ele, ou eu.

tenho dito.

Conto dos Dois Castelos

No tempo em que as árvores eram jovens, quando meti a espada às costas e lancei mãos à aventura, encontrei um rio bravo que corria diante de dois Castelos. Ali me sentei, na margem oposta, com os pés descansando nas águas gélidas, impossíveis de atravessar.
Abriu-se então a porta do Castelo de Ouro e dele saiu uma Princesa, a mais bela que o céu já testemunhou. Acenei-lhe e, num sorriso, respondeu-me da mesma forma. Pedi-lhe que me baixasse a ponte do seu Castelo para eu atravessar; ela ignorou-me, porém. E pôs-se a colher flores.
Sem que eu tivesse contudo reparado, o outro Castelo, de Prata, baixara a sua ponte. A sua Princesa atravessou-a com passos leves e pegou-me no braço. Virei-me e vi então que era bela; a sua beleza só superada pela Princesa do Castelo de Ouro.
"Vem.", disse-me.
"Se é este Castelo que queres, porque vais para esse?", gritou, da outra margem, a Princesa de Ouro.
Fiz-lhe sinal, pedi-lhe que baixasse a sua ponte.
"Não queres realmente este Castelo, só desejas atravessar o rio. Se eu te disser que não a baixo, então atravessarás essa ponte, não é verdade?"
Expliquei-lhe que não, mas não me quis ouvir. Então eu disse à Princesa de Prata que regressasse para o seu Castelo. Ela olhou-me e gemeu. Soltou-me o braço e, chorando, fez o que lhe ordenara. Lentamente, recolheu a sua ponte.

Hoje as árvores são já velhas e, no vento que lhes afaga os ramos, corre ainda esta história. Falam do homem que se tornou rocha fria junto ao rio, esperando para sempre uma ponte que nunca veio.

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Sismo

Por vezes, quando o frio aperta, treme-me a mão. Começa suave; como um velho tique. De repente, porém, atinge-me como uma vaga: o vibrar segue para o braço, invade-me o corpo. Depois... Vêm as memórias. Não uma de cada vez; não, todas em simultâneo, desordenadas, perdendo toda a sua continuidade temporal.
Tentem perceber: é como se o momento em que nasci fosse o mesmo em que dei o primeiro passo; o instante do meu primeiro beijo parece-me o mesmo dia do funeral de um familiar (parece-me até que os enterrei a todos num mesmo segundo). E tudo sucede neste preciso instante.
Penso de onde virão estes tremores; quando começou esta estranha doença?
Impossível saber: todos os momentos em simultâneo. Talvez tenha cá estado desde sempre... Talvez tenha começado ontem, ou no dia em que... Que dia?
O pior, contudo, é quando param. Porque fica apenas o vazio. E as lembranças já não me parecem tão reais e então duvido delas. Sento-me num canto qualquer e procuro um raciocínio que me prove a veracidade daquilo que recordo.
...
Nada feito.
Vou -me sentar naquela rua fria onde me recordo de termos dito adeus. Ou julgo recordar... Pouco importa.
(Serás tu real também? O que sentimos? Acordar imerso no teu rosto? Ter o controlo do teu sorriso?... Terá tudo isso sucedido?)
Não vens. Mas chega o frio. Lentamente, a minha mão estremece.

sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Era uma vez

Começo:

Veio um príncipe num cavalo hipotecado e a bela adormecida achou confortável o seu leito, mesmo que não sendo de seda; mesmo sendo de tecido grosseiro; não se ergueu, não lhe baixou a ponte levadiça.
O príncipe pensou em partir, procurar outro castelo: este conto de fadas era demasiado difícil. Pensou melhor: atravesso o fosso a nado.
Ninguém sabe que se passou depois.
Conta-se que conseguiu e levou a sua princesa. Mas há quem conte também que se esqueceu de tirar a armadura antes de mergulhar: e no lodo do teu fosso: afogou-se.


Dizes: Adivinhas-me.
Pergunto: O que esperavas se és o cálice pelo qual monto este corcel; se és a fonte de que todo o universo bebe e só por isso existe; se és a face que, uma vez olhada, revela a existência de um Ser Supremo?
Respondes: Existem mil caminhos, mil voltas redondas na linha uniforme da vida.
Rio. Triste, mas rio. Explico: Mas encontrado o caminho que mesmo nas trevas te faz sentir que todos os outros são inúteis, então só posso dizer o que te digo.

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

The Mission - Like a Child Again



Im not scared anymore
Im not scared of the dark when I sleep with you
And Im feeling alive
And Im feeling strong again when Im with you
And it hits me
Just like a runaway train
And it blows me away
Just like a hurricane
You make me happy and I hope you feel the same
You make me feel just like a child, a child again
Im not trapped anymore
Between Madonna and the whore when I lay with you
And the days run away
Like wild horses run away when Im with you
And Im breathing you in
Just like the morning air
And Im wrapping you around
Just like a skin to wear
Oh sweet thing
Im born once again
For you sweet thing
Just like a baby again
You make me happy and I hope you feel the same
You make me feel just like a child, a child again

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Lover You Should've Come Over

Vídeo feito por um fã...



Looking out the door
I see the rain fall upon the funeral mourners
Parading in a wake of sad relations
As their shoes fill up with water

Maybe I'm too young
To keep good love from going wrong
But tonight, you're on my mind so
You never know

Broken down and hungry for your love
With no way to feed it
Where are you tonight?
Child, you know how much I need it.
Too young to hold on
And too old to just break free and run

Sometimes a man gets carried away,
When he feels like he should be having his fun
Much too blind to see the damage he's done
Sometimes a man must awake to find that, really,
He has no-one...

So I'll wait for you... And I'll burn
Will I ever see your sweet return?
Oh, will I ever learn?
Oh, Lover, you should've come over
Cause it's not too late.

Lonely is the room the bed is made
The open window lets the rain in
Burning in the corner is the only one
Who dreams he had you with him
My body turns and yearns for a sleep
That won't ever come
It's never over,
My kingdom for a kiss upon her shoulder
It's never over,
all my riches for her smiles when I slept so soft against her...
It's never over,
All my blood for the sweetness of her laughter...
It's never over,
She's a tear that hangs inside my soul forever...

But maybe I'm just too young to keep good love
From going wrong
Oh... lover you should've come over...

Yes, and I feel too young to hold on
I'm much too old to break free and run
Too deaf, dumb, and blind
To see the damage I've done
Sweet lover, you should've come over
Oh, love, well I'll wait for you
Lover, you should've come over
'Cause it's not too late.

terça-feira, 27 de novembro de 2007

Arcade Fire - Crown of Love



They say it fades if you let it,
love was made to forget it.
I carved your name across my eyelids,
you pray for rain I pray for blindness.

If you still want me, please forgive me,
the crown of love has fallen from me.
If you still want me, please forgive me,
because the spark is not within me.

I snuffed it out before my mom walked in my bedroom.

The only thing that you keep changin’
is your name, my love keeps growin’
still the same, just like a cancer,
and you won’t give me a straight answer!

If you still want me, please forgive me,
the crown of love has fallen from me.
If you still want me please forgive me
because your hands are not upon me.

I shrugged them off before my mom walked in my bedroom.

The pains of love, and they keep growin’,
on my heart there’s flowers growin’
on the grave of our old love,
since you gave me a straight answer.

If you still want me, please forgive me,
the crown of love is not upon me
If you still want me, please forgive me,
cause this crown is not within me.
it’s not within me, it’s not within me.

You gotta be the one,
you gotta be the way,
your name is the only word that I can say

You gotta be the one,
you gotta be the way,
your name is the only word,
the only word that I can say!

Forever For Her (Is Over For Me) - White Stripes

I blew it
And if I knew what to do, then I'd do it
But the point that I have, I'll get to it
And forever for her is over for me
Forever, just the word that she said that means never
To be with another together
And with the weight of a feather it tore into me
Then I knew it
All the work that it took to get through it
On the wings of a feather that flew it
Fell onto my shoe it cut up into me

Well, everybody's reaction is changing you
But their love is only a fraction of what I can give to you
So let's do it, just get on a plane and just do it
Like the birds and the bees and get to it
Just get out of town and forever be free
Forever, I wonder we could stay together
It could change if you want for the better
Just turn down my shirt and lay down next to me

I blew it
And if I knew what to do, then I'd do it
But the point that I have, I'll get to it
And forever for her is over for me
Forever, just the word that she said that means never
To be with another together
And with the weight of a feather it tore into me

Well, everybody's reaction is changing you
But their love is only a fraction of what I can give to you
Well, let's do it, let's get on a plane and just do it
Like the birds and the bees and get to it
Just get out of town and forever be free
Forever, I wonder we could stay together
It could change if you want for the better
Just tug at my shirt and lay down next to me

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Heard Somebody Say

Uma das minhas músicas preferidas, de um dos meus artistas preferidos, Devendra Banhart:




I heard somebody say
That the war ended today
But everybody knows it's goin' still

Our motherlands and motherseas
Here's what we believe
It's simple
We don't want to kill

I heard somebody say
That the war ended today
But everybody knows its goin' still

Our motherlands and motherseas
Here's what we believe
It's simple
We don't want to kill

Oh, it's simple
We don't want to kill
Oh, it's simple
We don't want to kill
Oh, it's simple

Submersão do Meu Ser - CDA



Sempre me senti atraído pela forte componente estética da Dança Contemporânea; este Sábado fui surpreendido pela positiva com "Submersão do Meu Ser", extraordinário espectáculo concebido pela Companhia de Dança de Almada a partir de "O Jardim das Delícias", um conjunto de três painéis da autoria de Hieronymus Bosch, pintor flamenco do século XVI.
É um espectáculo capaz de mexer com as nossas emoções, misturando símbolos religiosos e medievais com a realidade contemporânea, criando uma torrente de fantasias emocionais que levam o espectador a chorar, rir, odiar...
Nota especial para o magnífico desenho de luz, que procura explorar a profundidade do palco e a acentuar a sua tridimensionalidade; e para os figurinos que, na sua simplicidade, nos remetem para toda a humanidade, pela variedade de culturas a que se assemelham.

Cinco Estrelas. A ver e a rever.


Aqui deixo a ficha técnica:

Concepção e Coreografia: Rita Galo

Cenografia: Rita Torrão

Figurinos: Ana Saraiva

Desenho de Luz: Pedro Machado

Som, edição e mistura: José Manuel Pacheco

Assistente de ensaio: Maria João Lopes

Intérpretes (Originais): Alexandrina Nogueira, Carla Jordão, David Silva, Jack Jones, Rita Galo, Theresa da Silva C. e Tiago Careto

Intérpretes (Actuais): Alexandrina Nogueira, Débora Queiroz, Diana Amaral, Diogo de Carvalho, Maria João Mirco, Nuno Gomes, Tiago Medeiros

Duração: 60m

domingo, 25 de novembro de 2007

Ontem

Ontem foste embora e não disseste adeus...
E eu verguei e quebrei e ao tocar o solo fiz-me em mil. Das brumas surgiram dez mil mãos, que me ergueram e me ensinaram o colar das peças. Mas mesmo inteiro, pergunto-me porque
Ontem foste embora e não disseste adeus...

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Mon Rève

Sonhei contigo esta noite.
Eu aprendia a voar e procurava-te até que uma música me chamava a atenção. Aproximei-me, devagar. Tu apareceste e pegaste na minha mão, para dançarmos. Agarrei-te e voámos (fechaste os olhos, assustada; pousaste a tua cabeça no meu peito). Pousei-te num ramo de árvore e ficámos a ver as crianças que corriam estrada fora.

Nada sei de oníricas interpretações. Mas sei que fui feliz enquanto
Sonhei contigo esta noite.

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Na Nossa Sinfonia

Escutei. Havia passos no corredor. E talvez não fossem passos de quem anda, mas de quem rodopia numa dança antiga (muito antiga, Deus criou-a quando arrancou Eva de Adão e o deixou sendo apenas metade) e eu abri a porta e espreitei. Foi quando se me abriu o peito e escorreu uma nota solta que, caindo no chão, se desfez em cem e de cem se fez em dez mil.
Uma senhora esperava-me e observava divertida o meu rosto de espanto perante a melodia que assim nascia. "De que te serve meia sinfonia?" "Meia?", perguntei, confuso. "Meia.", repetiu-me. E deu meia volta e entrou-me na cabeça. "Vá," disse-me dentro de mim, "vamos procurar a outra metade."
Meti a trouxa às costas (um pouco de pão, meio queijo e um pouco de vinho) e fiz-me à estrada. "Não percas o Norte, segue os carris.", avisou-me a senhora na minha cabeça. E fui carris fora, dormindo à beirinha, às vezes ao frio, às vezes à chuva.
Quando cheguei à cidade vinha o Sol atrás de mim, ainda mal nascido e ao ver-me riu e disse "Então mas que procuras tu?" E contei-lhe a minha história e o Sol riu e disse "Esteve sempre aí."
E brotei a senhora da minha cabeça. E não era uma senhora, mas uma rainha de branco e ouro que se desculpou dizendo "Não dou nomes às coisas. Que importância tem os nomes das coisas?"
"Tens razão, não importa. Mas importa que existam."
E ela mostrou-me o peito aberto e caiu uma nota que se desfez em cem e de cem se fez em dez mil.
"A menina dança?"

Mudemos de Assunto

Andas ai a partir coracões
como quem parte um baralho de cartas
cartas de amor
escrevi-te eu tantas
às tantas, aos poucos
às tantas, aos poucos
eu fui percebendo
às tantas eu la fui tacteando
às cegas eu la fui conseguindo
às cegas eu la fui abrindo os olhos

E nos teus olhos como espelhos partidos
quis inventar uma outra narrativa
até que um ai me chegou aos ouvidos
e era só eu a vogar à deriva
e um animal sempre foge do fogo
e mal eu gritei: fogo!
mal eu gritei: agua!
que morro de sede
achei-me encostado à parede
gritando: Livrai-me da sede!
e o mar inteiro entrou na minha casa

E nos teus olhos inundados do mar
eu naveguei contra minha vontade
mas deixa la, que este barco a viajar
ha-de chegar à gare da sua cidade
e ao desembarque a terra sera mais firme
ha quem afirme
ha quem assegure
que é depois da vida
que a gente encontra a paz prometida
por mim marquei-lhe encontro na vida
marquei-lhe encontro ao fim da tempestade

Da tempestade, o que se teve em comum
é aquilo que nos separa depois
e os barcos passam a ser um e um
onde uma vez quiseram quase ser dois
e a tempestade deixa o mar encrespado
por isso cuidado
mesmo muito cuidado
que é fragil o pano
que veste as velas do desengano
que nos empurra em novo oceano
fragil e resistente ao mesmo tempo

Mas isto é um canto
e nao um lamento
ja disse o que sinto
agora facamos o ponto
e mudemos de assunto
sim?

Andas ai a partir coracões
como quem parte um baralho de cartas
cartas de amor
escrevi-te eu tantas
às tantas, aos poucos
às tantas, aos poucos
eu fui percebendo
às tantas eu la fui tacteando
às cegas eu la fui conseguindo
às cegas eu la fui abrindo os olhos

E nos teus olhos como espelhos partidos
quis inventar uma outra narrativa
até que um ai me chegou aos ouvidos
e era só eu a vogar à deriva
e um animal sempre foge do fogo
e eu mal gritei: fogo!
mal eu gritei: agua!
que morro de sede
achei-me encostado à parede
gritando: Livrai-me da sede!
e o mar inteiro entrou na minha casa

E nos teus olhos inundados do mar
eu naveguei contra minha vontade
mas deixa la, que este barco a viajar
ha-de chegar à gare da sua cidade
e ao desembarque a terra sera mais firme
ha quem afirme
ha quem assegure
que é depois da vida
que a gente encontra a paz prometida
por mim marquei-lhe encontro na vida
marquei-lhe encontro ao fim da tempestade

Da tempestade, o que se teve em comum
é aquilo que nos separa depois
e os barcos passam a ser um e um
onde uma vez quiseram quase ser dois
e a tempestade deixa o mar encrespado
por isso cuidado
mesmo muito cuidado
que é fragil o pano
que veste as velas do desengano
que nos empurra em novo oceano
fragil e resistente ao mesmo tempo

Mas isto é um canto
e nao um lamento
ja disse o que sinto
agora facamos o ponto
e mudemos de assunto
sim?


-Sérgio Godinho, Mudemos de Assunto


Um dos melhores poemas da música portuguesa. Existem frases na boca (e guitarra) de Sérgio Godinho que conseguem transformar uma alma, tal a forma com que joga com as palavras e com os temas. (Recordemos a pequena maravilha que é, ao escutar Segundo Andar Direito, ouvir de súbito "Espero que não seja preciso, porque não sei como é que eles vão viver sem os dois salários.")
Era bom que a nova geração não se limitasse, no que concerne aos nossos queridos cantautores, a Jorge Palma (igualmente genial), mas que se deixassem levar também pela grandiosidade de Sérgio Godinho.
Eu, por mim, vou passeando por Quatro Quadras Soltas enquanto penso onde andará a Rita da Balada... Talvez o melhor seja perguntar ao coveiro...

domingo, 18 de novembro de 2007

Conta-me uma história...

Foi o que ela me pediu. 'Conta', disse num murmúrio. Devo contar. Talvez um dragão. História que se preze tem um dragão e uma bruxa. E uma princesa e um cavaleiro. Não é difícil. Basta-me contar-lhe a história (Já existe;está lá; basta-me encontrá-la.).
Um cavaleiro perdido encontra uma princesa. Surge um dragão que bufa e os aparta. (Não para sempre, isso é um disparate.) Uma bruxa... O dragão na verdade é uma bruxa sem forma, irreal, resumo de todas as barreiras. Muda de forma. É uma amante para o cavaleiro, um outro cavaleiro para a princesa; para ambos é a distância física e imaterial. Como se mata um dragão assim?
O cavaleiro não sabe. (Já dormes? Vou prosseguir, a história precisa de um fim, mesmo que seja igual a todas as outras.) Percebe então que não o podem vencer. Procura a princesa e encontra-a numa ilha remota. 'Vim salvar-te', diz-lhe. E ela repete-lhe o inevitável, que 'Não se pode vencer aquela bruxa, nem sabemos o que é. Pode até ser esta ilha que pisamos; ou o Rei Gordo, que domina a Senhora de Negro.' 'Bem sei,' responde o cavaleiro, 'mas podemos combater. Podemos nunca desistir.'
(Ainda não dormes. Vi que estremeceste os olhos e a tua respiração sobressaltou-se. Sabes portanto do que falo.)
E viveram felizes para sempre (p'ró diabo com os disparates), combatendo uma bruxa que desconfiam ser sua filha.
(Não faz sentido, mas é real. Tu sabes. Abraças-me. Adormecemos.)