Hoje, o meu gato acordou-me, com os olhos faiscando no meio do abismo de pêlo que se fundia no escuro da noite, apenas para me dizer
- Vou-me embora.
E, como se o que se passara fosse algo de casual, começou a lamber a pata, lavando o seu corpo de azeviche.
- Vais embora?
Ele olhou-me, com uma expressão grave. Chegou-se mais perto, com o cuidado de não a acordar a ela, que dormia profundamente a meu lado, e esfregou a sua cabeça no meu rosto. Peguei nele e fitei-o com atenção.
- Chegou a hora?, perguntei.
- Chegou, meu amigo.
Levantei-me, com ele enroscado no meu colo, ronronando.
- Para onde vais?
- Tu sabes.
- E ela?
- Ela fica. É aqui que ela pertence.
Abri-lhe a porta.
- Não queres comer algo antes de ir?
- Não é preciso.
Ficámos em silêncio por uns instantes.
- Adeus.
- Adeus.
Ele começou a deslizar rua fora. Quando ia quase a desaparecer na esquina, indecifrável da cortina nocturna, chamei-o e perguntei mais uma vez
- Para onde vais?
Ele parou e, não fosse pelas suas feições felinas, seria capaz de jurar que sorriu antes de me responder
- Para outro sonho.
4 comentários:
VOLTASTE! VOLTASTE! VOLTASTE!
que bom, estou tão feliz jazzy.
... e ainda por cima voltas com este sonho maravilhoso!!
não desapareças outra vez por favor :)
beijo
Passou por mim um gato negro mas não quis ficar: não gostou do sonho. Também eu não gostava, por isso saí e entrei no teu. Mas não vou ficar muito tempo, apenas o suficiente para seguir para outro sonho. E outro. E outro...
Boas. é o danny.
abraço
onde estás jazzy?
Enviar um comentário