quinta-feira, 3 de abril de 2008

O Enxoval das Bruxas

Chamavam-lhe "o enxoval das bruxas", a essas alturas em que chove apesar do sol radiante. Macário sempre se interrogara do porquê. Hoje, à porta da tasca, com um cigarro entre os dentes e um copo de vinho na mão, recordava-se da sua infância. Não se tratavam de reminiscências isoladas, mas de toda uma sensação que lhe vinha à memória e que estava certo de ser o que sentem as crianças.
'O enxoval das bruxas...', balbuciou.
E recordou, imiscuída nesse sentimento, a imaginação infantil que despertava com tais palavras: um desfile de bruxas dançando, segurando o véu negro da que seguia na frente, com um ramo de flores silvestres já murchas. Macário via agora essas imagens diante de si, tal e qual como quando tinha cinco, seis, sete anos...
Alguém dentro da taberna rosnou, chamando por ele, exigindo ser servido. A chuva interrompeu-se, as bruxas sumiram. Macário apagou o cigarro, verteu o resto do vinho goela abaixo e, com passadas de homem, regressou para trás do balcão.

3 comentários:

Anónimo disse...

ora aí está uma expressão e uma história que nunca tinha ouvido.
enxoval das bruxas... muitos panos tem essa manga...

Anónimo disse...

continuas embruxado meu amigo?

Igor disse...

Cassamia:
Era uma expressão que os mais velhos usavam lá para as bandas onde cresci...
Lamento a falta de tempo que tenho tido, bem como alguns contratempos com o funcionamento da Internet... E uma certa feitiçaria (não bruxaria), que me tem agarrado o tempo todo... ;)