domingo, 6 de janeiro de 2008

Cara Metade

Dói-me o peito. Tu sabes.
Espero uma resposta. Não vem. Espero um pouco mais. Já foi. Mas era outro o caminho e eu não vi e não fui.

É assim como se fosse a morte a bater à janela e eu a fingir que não estou em casa. É um pouco como isso, só que não sei como isso é. Sei, contudo, que me recorda uma tal situação. Porque quando julgo que é uma corda que trazes na mão, de laço já feito, digo-te: "Vou ali e já venho."

Bem sei que dantes (quando foi?) não era assim (dizes que foi ontem, eu digo que foi noutra era).
Mas tinham-me então crescido os dentes e tinham fome. Pediram o mundo e eu não sabia que mundo lhes dar. Pensei: havia um restaurante naquela rua. E esqueci-me do néctar que tinhas para mim.

Quando os dentes se foram (mas a fome ficou), já o teu néctar secara (ou fechaste a fonte?).

Por isso hoje, mesmo não sendo nada disso por não saber o que isso é, sou um homem com dores no peito, gemendo de fome e fingindo não ver a morte que bate, insistente, à janela.

1 comentário:

Anónimo disse...

maravilhoso jazzy. de tudo o que escreveste até agora, estas palavras foram inquestionavelmente as que me olharam como me olha o reflexo do espelho... apeteceu-me ter sido eu a escrevê-las, por tão as sentir.
cassamia