quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

Despertar

Foi ontem, um pouco antes de adormeceres. Eu, como é óbvio, já dormia. Puxaste novamente a colcha sobre o teu corpo. Eu deixei, mas revirei-me na cama e agarrei-me a ti. Estava a dormir, bem sabes, e a cama era estreita. Afastaste o teu rosto do meu, incapaz de suportar o bafo alcoolizado da nossa discussão que, sorrateiro, me escapava ainda dos lábios entreabertos. Eu sei que dormia: penso que o sabes também. Porém no afastar do teu rosto, saiu-me uma palavra por entre o bafo. Era o teu nome. Esperaste um pouco, imóvel, na escuridão.
"O que foi?"
Não respondi. É preciso que entendas: estava a dormir. Como poderia eu responder? Agora que estou acordado, sei qual era a resposta. Era simples. Deveria tê-la dito ontem, quando afastaste o teu rosto do meu. Mas dormia, bem sabes.
Quando acordei e te abracei e te falei da noite que terminara por fim e tentei livrar-me do meu horrível hálito, tu nada disseste sobre o que sucedera durante o meu sono. Olhaste-me e nada mais. Fizemos amor triste e sem vontade. O teu corpo pouco se moveu. Eu quis chorar e achei-me patético. Deitei-me no teu seio; a tua mão no meu cabelo.
E respondi-te, por fim.

1 comentário:

Anónimo disse...

hoje que me sinto triste até ao âmago, chorei ao despertar com este triste despertar igor
cassamia