segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Mudemos de Assunto

Andas ai a partir coracões
como quem parte um baralho de cartas
cartas de amor
escrevi-te eu tantas
às tantas, aos poucos
às tantas, aos poucos
eu fui percebendo
às tantas eu la fui tacteando
às cegas eu la fui conseguindo
às cegas eu la fui abrindo os olhos

E nos teus olhos como espelhos partidos
quis inventar uma outra narrativa
até que um ai me chegou aos ouvidos
e era só eu a vogar à deriva
e um animal sempre foge do fogo
e mal eu gritei: fogo!
mal eu gritei: agua!
que morro de sede
achei-me encostado à parede
gritando: Livrai-me da sede!
e o mar inteiro entrou na minha casa

E nos teus olhos inundados do mar
eu naveguei contra minha vontade
mas deixa la, que este barco a viajar
ha-de chegar à gare da sua cidade
e ao desembarque a terra sera mais firme
ha quem afirme
ha quem assegure
que é depois da vida
que a gente encontra a paz prometida
por mim marquei-lhe encontro na vida
marquei-lhe encontro ao fim da tempestade

Da tempestade, o que se teve em comum
é aquilo que nos separa depois
e os barcos passam a ser um e um
onde uma vez quiseram quase ser dois
e a tempestade deixa o mar encrespado
por isso cuidado
mesmo muito cuidado
que é fragil o pano
que veste as velas do desengano
que nos empurra em novo oceano
fragil e resistente ao mesmo tempo

Mas isto é um canto
e nao um lamento
ja disse o que sinto
agora facamos o ponto
e mudemos de assunto
sim?

Andas ai a partir coracões
como quem parte um baralho de cartas
cartas de amor
escrevi-te eu tantas
às tantas, aos poucos
às tantas, aos poucos
eu fui percebendo
às tantas eu la fui tacteando
às cegas eu la fui conseguindo
às cegas eu la fui abrindo os olhos

E nos teus olhos como espelhos partidos
quis inventar uma outra narrativa
até que um ai me chegou aos ouvidos
e era só eu a vogar à deriva
e um animal sempre foge do fogo
e eu mal gritei: fogo!
mal eu gritei: agua!
que morro de sede
achei-me encostado à parede
gritando: Livrai-me da sede!
e o mar inteiro entrou na minha casa

E nos teus olhos inundados do mar
eu naveguei contra minha vontade
mas deixa la, que este barco a viajar
ha-de chegar à gare da sua cidade
e ao desembarque a terra sera mais firme
ha quem afirme
ha quem assegure
que é depois da vida
que a gente encontra a paz prometida
por mim marquei-lhe encontro na vida
marquei-lhe encontro ao fim da tempestade

Da tempestade, o que se teve em comum
é aquilo que nos separa depois
e os barcos passam a ser um e um
onde uma vez quiseram quase ser dois
e a tempestade deixa o mar encrespado
por isso cuidado
mesmo muito cuidado
que é fragil o pano
que veste as velas do desengano
que nos empurra em novo oceano
fragil e resistente ao mesmo tempo

Mas isto é um canto
e nao um lamento
ja disse o que sinto
agora facamos o ponto
e mudemos de assunto
sim?


-Sérgio Godinho, Mudemos de Assunto


Um dos melhores poemas da música portuguesa. Existem frases na boca (e guitarra) de Sérgio Godinho que conseguem transformar uma alma, tal a forma com que joga com as palavras e com os temas. (Recordemos a pequena maravilha que é, ao escutar Segundo Andar Direito, ouvir de súbito "Espero que não seja preciso, porque não sei como é que eles vão viver sem os dois salários.")
Era bom que a nova geração não se limitasse, no que concerne aos nossos queridos cantautores, a Jorge Palma (igualmente genial), mas que se deixassem levar também pela grandiosidade de Sérgio Godinho.
Eu, por mim, vou passeando por Quatro Quadras Soltas enquanto penso onde andará a Rita da Balada... Talvez o melhor seja perguntar ao coveiro...

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