sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Já não há mais histórias

Deixaram-me sem histórias. É verdade. Procurei debaixo do sofá, dentro dos livros e até levantei o tapete (e isto é estúpido, porque todos sabem que uma história não cabe debaixo do tapete). Nem uma. No bolso só tinha um lenço de papel amarrotado e felizmente ainda por usar. Histórias, nem uma.

Foi um golpe baixo, esse de me deixar sem histórias. Tentei escrever a minha vida, mas apercebi-me que também não tinha história. Era assim como que um imenso disparate, ou melhor, uma imensidade de disparates muito bem colados.

"Para onde raio foram as histórias?", quis saber, com o punho cerrado batendo no balcão dos Ministros.

"Ah, bem sabe, já ninguém quer saber de histórias, já ninguém acredita..."

"Que lhes fizeram, então?!"

"Promulgámos uma lei a dizer que não há mais histórias. Lamento, nada a fazer."

Nada a fazer, portanto. Vou dedicar-me à colagens.

8 comentários:

Anónimo disse...

WTF? xD

As histórias são como a genialidade. Não se criam, têm-se. Mesmo quando não se têm, no pico da genialidade, a caneta sabe o que escrever, mesmo que o cérebro o descubra apenas quando a caneta começa a mexer.

Proibir histórias é como impôr sem qualquer alternativa horários, gostos e maneiras de rir: uma parvoíce!

Por isso, citando de forma desavergonhada uma citação tua, "chegou a hora romântica dos deuses nos pedirem a desobediência" e de nós desobedecermos... Aos deuses e à desobediência anterior ;)

P.S.: as colagens também são proibidas, porque as colas -- SAFEL nomeadamente -- podem ser perigosas para as pessoas que as tentarem snifar. Para proteger as pessoas que estão ao pé de outras pessoas que estão a colar, foi decidido pelo governo proibir as colagens.

Igor disse...

....
ok, goucha. era uma parábola. não é para levar à letra. lol
mas obrigado por teres espreitado este meu blog e espero poder contar mais vezes com a tua visita.
a gente vê-se no café.
:)

Anónimo disse...

por falar em histórias (nós andamos sempre na mesma linha ferroviária, apesar de em comboios diferentes ) estou eu há horas e horas a olhar para este objecto no intuito de começar omeu projeto final de pos graduação (o poder da leitura)quando me surge este teu post onde se diz que as histórias foram proíbidas (metaforicamente falando, claro).
ora eu, que não consigo viver sem livros e sem historias, pergunto-te:
porque achas que as crianças estão tão afastadas do livro?
cassamia

Igor disse...

porque já não há tempo... quantos são os pais que ainda lêem uma história aos filhos antes de dormir?
sim, pode-se falar da televisão e dos videojogos, que permitem às crianças VER e VIVER as histórias, mas não se aniquilam mutuamente, portanto não me parece que anulem o prazer da leitura, além de que as crianças adoram o factor "imaginação". não me parece que estes sejam os principais culpados.
a sociedade, o stress diário seriam talvez mais indicados. mas, tal como refiro no meu post, creio que o que sucede é que já ninguém acredita. os adultos só crêem na ciência e no óbvio, pelo que perderam a capacidade de envolver as crianças no prazer do impossível e do fantástico. e, então sim, fazem dos filmes da disney contadores de histórias.
então crescem longe dos livros, porque já não conseguem imaginar...
porque dá trabalho ler; porque não se consome rápido.
os culpados não são os videojogos ou os filmes: esses são apenas sobreviventes numa era de fast-food e resultados imediatos.

em todo o caso, é só uma opinião.. :)

Anónimo disse...

esse é precisamente o tema que escolhi para a minha pos graduação porque me doi de verdade o coração ao ver os meus alunos com a imaginação e a capacidade criativa completamente castradas. a tv e a net proporcionam a palavra o som e a imagem. mas ao chegar a todos esses sentidos de uma só vez, não deixam espaço para que a imaginação os recrie e os reinvente como o livro permite e isso deixa-me triste. até porque depois, ainda que não parece isso reflecte-se nos maus resultados em lingua portuguesa e em matematica na medida em que a interpretação e a resoluçao de problemas, pressupõem uma capacidade criativa desenvolvida, algo que os miudos hoje não têm...
eu fui uma criança muito priviligiada pois apesar de os meus pais não lerem, sempre desde muito menina, me deram livros a ler
hoje não vivo sem a sua magia e dava tudo para oferecer isso aos meus alunos: a magia de entrar dentro de um livro sem saber o que se vai encontrar...

Igor disse...

pois...
isto atira-me para novo post...

nonsense disse...

Podemos sempre entrar em greve!

Igor disse...

boa ideia!
fazemos greve e vamos para a rua gritar!
sem histórias é que não!!!