domingo, 10 de fevereiro de 2008

O Intruso

E então ela foi-se. Há muito que discutíamos sobre o intruso que, a pretexto de suposta amizade, se instalara naquele cantinho da casa. Eu aborrecia-me porque ele lhe olhava as pernas, lhe gabava o peito. Aborrecia-me o lixo que ele espalhava pelo chão e que eu tinha de recolher, em silêncio, para evitar novas discussões. Ela fez dele bicho de estimação e passava-lhe a mão atrás das orelhas. Isto incomodava-me, como é óbvio. Ele entrara na casa prometendo não incomodar, prometendo não tocar nela, não olhar para ela.
Mas os dias passaram e eu dei por mim sentado no sofá, sozinho, enquanto eles brincavam pela casa. Eu dirigi-me a ela e pedi-lhe que entendesse que ele prometera ficar apenas no cantinho daquela casa. Ela pediu-me confiança. Discutimos. Eu aceitei.
No dia seguinte, ele devorou-a. Levou-a na barriga. Eu fiquei. Juro que me parece que ainda a ouço rir...

2 comentários:

Anónimo disse...

em trás-os-montes jazzy, vamos a um monte e abrimos a boca. e então sai dela o grito que esconde o riso que nos ficou ou a lágrima que nos molhou ou a dorque nos rasgou.
quando descemos o monte, temos as gavetas ou limpas ou arrumadas.
se pudesse oferecia-te um dos meus montes agora para poderes abrir a boca... e também eu estou tão longe deles...

Igor disse...

este texto foi de facto mais pessoal e menos literário, embora mais literal. como não tenho monte, berro onde posso.
Obrigado, Cassamia...
qualquer dia emprestas-me um monte...